Guiné-Bissau: Um País Reflete Da Própria Instabilidade

A Guiné-Bissau é hoje o retrato doloroso de um Estado que insiste em sobreviver, mas raramente consegue governar-se. Décadas após a independência, conquistada à custa dos sonhos, das famílias e das vidas de muitos jovens que lutaram por dignidade, liberdade e prosperidade, o país permanece preso numa espiral de crises políticas, golpes de Estado e lutas pelo poder. Isso fragmenta as esperanças das pessoas e a vitória em qualquer possibilidade de estabilidade.

Já não se trata de um problema momentâneo ou restrito a líderes específicos. O que está em causa é um sistema falhado, corroído por interesses pessoais, falsas camaradagens e relações de conveniência, em que todos se tratam como irmãos, filhos e mães, numa encenação de falsidade descarada.

As eleições, que deveriam ser a celebração máxima da democracia, transformaram-se em momentos propícios para traições futuras e para tensão permanente. Em vez de promoverem a união, aprofundam as divisões. Os resultados são frequentemente contestados antes mesmo de serem anunciados, como ocorreu nas eleições presidenciais de 2019, quando ambos os candidatos declararam vitória antes da confirmação oficial. Isso agravou a instabilidade política e criou espaço para o caos institucional. Esse ambiente favorece a atuação das Forças Armadas, que, ao substituir as instituições civis, passam a exercer o papel de juiz supremo da nação. Ora apoiam quem está no poder na cooptação das instituições democráticas do Estado, perseguindo a oposição e oprimindo o povo; ora apoiam essa mesma oposição para tentar um golpe de Estado. Quando é o exército que decide quem governa, a democracia deixa de existir.

A mais recente tentativa de golpe de Estado é um ataque brutal ao povo guineense. Trata-se de uma agressão direta à Constituição, uma frente à soberania nacional e uma traição ao legado daqueles que tombaram pela liberdade. É a prova de que ainda existem indivíduos e grupos que veem na Guiné-Bissau um objecto para os seus negócios escassos, e não como uma nação que precisa de estabilidade, respeito e privacidade. Não há causa nobre que justifique mais um golpe; o que aconteceu, como os anteriores, é um teatro para colocar em causa as recentes eleições gerais e subverter a ordem constitucional.

A classe política guineense transformou o Estado numa arena de rivalidades pessoais, mentiras e traições. O povo, quase sempre excluído dessa proposta, acaba por ser, ainda que involuntariamente, cúmplice das próprias desgraças por não compreender plenamente seu papel no destino do país. Faltam uma visão nacional, um verdadeiro projeto de futuro e compromisso com o desenvolvimento humano. Existem líderes, mas poucos estadistas. Existem discursos, mas quase nenhuma ação concreta.

Nesse circo trágico e teatral, é o povo que continua a sofrer. Falta acesso digno à saúde, à educação, ao emprego e à segurança alimentar. Aqueles que oferecem partem em busca de uma vida melhor; outros resignam-se ao caos, como se fosse algo normal. Esse talvez seja o maior perigo: quando a instabilidade se torna rotina, deixa de ser combatida.

Outro fator impossível de ignorar é o narcotráfico. Por mais doloroso que seja admitir, a Guiné-Bissau transformou-se, aos olhos do mundo, numa importante rota internacional de drogas. Um exemplo concreto ocorreu em 2013, quando vários altos oficiais militares foram acusados ​​de envolvimento no transporte de cocaína da América do Sul para a Europa, o que evidencia o papel do país como ponto estratégico nesse tráfico ilícito. Outra situação ocorreu em 2024, quando foi descoberto um avião com destino ao Mali, com 2,6 toneladas de droga.

E o atual golpe de Estado é uma cortina de fumaça daqueles que têm interesse nessa atividade criminosa que não apenas mancha a imagem do país, mas também infiltra dinheiro sujo nas estruturas do Estado, alimentando a corrupção, comprando influências e contribuindo para a violência política.

Os militares precisam compreender, de uma vez por todas, que não são donos do país, nem julgados da vida política nacional. A sua missão constitucional limita-se à defesa da integridade territorial e à proteção dos órgãos de soberania — e nunca à interferência partidária, à intimidação institucional ou à tomada do poder pela força. Sempre que os militares se colocam acima das instituições civis, a democracia é violentada, o Estado é humilhado e o povo é colocado sob o jugo daqueles que deveriam controlá-lo, e não o controlar. A participação das Forças Armadas na política é uma violação explícita da Constituição e um ataque direto à soberania popular, além de perpetuar o ciclo de medo, golpes e instabilidade que mantêm a Guiné-Bissau refém há décadas.

Não precisamos ser “mães, filhos ou irmãos” de um ou de outro na política, mas sim um povo consciente que, mesmo diante da diversidade de opiniões, seja capaz de construir um futuro sustentável, baseado na liberdade, na dignidade e no respeito à Constituição da República que nos une.

O povo guineense não nasceu para viver eternamente sob a sombra do medo político. Merece paz, estabilidade e um futuro que não seja, mais uma vez, escrito à força das armas.

Ataque à Escola na Nigéria: Vice-Diretor Morto e 25 Alunas Sequestradas em Kebbi

Homens armados invadiram um internato feminino em Maga, Nigéria, mataram o vice-diretor e sequestraram 25 alunas. Polícia realiza operação de resgate na região.

Na madrugada desta segunda-feira (17), a Escola Secundária Abrangente Feminina do Governo, em Maga, estado de Kebbi, foi invadida por homens armados. Durante o ataque, o vice-diretor Hassan Yakubu Makuku perdeu a vida ao tentar proteger as alunas, e outro membro da equipe escolar ficou ferido. O sequestro de 25 estudantes gerou grande preocupação na comunidade local e repercussão internacional.

De acordo com o porta-voz da polícia, Nafiu Abubakar Kotarkoshi, os invasores trocaram tiros com a polícia antes de escalar os muros da escola. O ataque foi planejado com táticas coordenadas, reforçando a complexidade e a gravidade da ação.

Unidades táticas, soldados e vigilantes locais foram acionados para localizar as rotas de fuga e vasculhar as florestas próximas, numa tentativa de resgatar as alunas sequestradas. As autoridades reforçam que a prioridade é proteger a vida dos estudantes e capturar os responsáveis.

O ataque em Kebbi faz parte de uma triste série de sequestros de estudantes na Nigéria, principalmente no noroeste do país. Apesar das promessas do governo de reforço da segurança, gangues armadas continuam atuando em escolas e vilarejos.

Em 2014, o grupo extremista Boko Haram sequestrou 270 estudantes em Chibok, no nordeste do país. Muitas delas foram libertadas ou conseguiram escapar, mas algumas nunca voltaram para casa, deixando famílias e comunidades em sofrimento.

Organizações internacionais e governos estrangeiros acompanham o caso de perto, enquanto especialistas em segurança alertam para a necessidade de medidas adequadas para proteger escolas e estudantes. A situação reforça a urgência de políticas públicas para prevenir ataques e garantir a educação segura no país.

POLÍTICA COMO ABRIGO DA IMPUNIDADE

Vivemos num mundo em que, para escapar à justiça, por vezes basta uma eleição. Se você quer ser ladrão e continuar de cabeça erguida, é político – e chama qualquer investigação de perseguição. O que antes do crime seria se transforma, subitamente, em estratégia, em narrativa, em jogo de poder. A culpa deixa de ser tua e passa a ser de quem ousa questionar.

Se você quiser violar e permanecer impune, seja político. Em muitos casos, nem a própria família da vítima será colocada ao lado da vítima. Pelo contrário: protegerá o agressor e apontará o dedo a quem já foi violentado. A sociedade observa, em silêncio, anestesiada ou cúmplice, como se a injustiça fosse feita parte da paisagem.

Se é ignorante, mas tens dinheiro suficiente para parecer intelectual, é político. Aprende meia dúzia de palavras complicadas, repete frases vazias com entoação firme e sobe a um palco. As massas, privadas de educação crítica e saturadas de promessas, siga-te-ão como se fossem um mito, um salvador inventado pela própria carência da realidade.

Se você quiser mentir e, ainda assim, contar com seguidores fiéis, seja político. A verdade deixa de ser um fato e passa a ser uma opinião. A mentira, quando repetida o suficiente, torna-se crença. E a crença, quando partilhada por muitos, torna-se quase lei. E as redes sociais estão lá para o provar.

Se você quer promover intolerância, perseguir quem é diferente, quem ama diferente, quem acredita diferente, seja político. Chama o preconceito “opinião”. Chama de “liberdade de expressão” o ódio”. As instituições democráticas, que deveriam proteger, frequentemente limitam-se a murmúrios tímidos diante da multidão que aplaude a violência disfarçada de discurso.

Se você quiser enriquecer-te ilegalmente sem que reparem, seja político. Basta adotar um discurso de defesa dos costumes, da família, da moral e dos valores. Enquanto a população se divide em batalhas morais e ideológicas, ninguém olha para as suas contas, para os teus esquemas, para os teus privilégios. Estão ocupados demais a odiar quem lhes foi ordenado odiar.

 

Se você quiser o apoio do povo para perseguir outros povos, minorias ou culturas, seja político. Basta declarar os inimigos, chamar as ameaças e construir uma narrativa de medo. Apresenta-te como vítima, mesmo sendo o agressor. Diz que atacam a tua religião, a tua identidade, a tua pátria. Em nome disso, muitos serão felizes em ferir, excluir e até matar.

Mas a culpa não é apenas dos políticos. É doloroso admitir: o povo também falha. Ignora a própria história, rejeita a reflexão, prefere a raiva à lucidez. Troque a verdade pelo conforto da mentira conveniente. Vota levada por emoções, por slogans, por medo – e não por consciência.

Os que ontem chegaram ao poder, prometendo unidade, respeito e preservação cultural, transformam essas palavras em instrumentos de opressão. A unidade vira perseguição institucional. O nacionalismo converte-se em violência legitimada pelo preconceito. A cultura passa a ser desculpa para limitar direitos, controlar corpos e silenciar vozes. E o que, no início, era contra o diferente e a minoria, tornar-se-á contra todos aqueles que, em algum momento, começaram a divergir.

E assim seguimos: governados, muitas vezes, por criminosos e mentirosos de fato e de gravata, enquanto os que ousam resistir são desacreditados, silenciados ou transformados em mártires.

Talvez o maior problema já não seja apenas quem governa.

Talvez sejamos nós que nos deixe de lutar, de ter pensamento crítico, de estudar e continuarmos a permitir.